Entre novembro de 1949 e janeiro de
1950 a população de Camocim viveu um fato inusitado em sua história - uma greve
de ferroviários com reflexos na população e outro setores da cidade que
protestavam contra a saída dos trens e das oficinas de manutenção da cidade
para outros locais. Como grande fonte empregadora de mão-de-obra - a ferrovia
chegou a ter cerca de 800 funcionários no seu quadro distribuídos nas várias
seções. A transferência de funcionários para outras cidades, o sucateamento do
material rodante que não tinha reposição, acenderam o sinal de alerta entre os
ferroviários que viram neste conjunto de fatores uma forma de pouco a pouco ir
desestabilizando o ramal ferroviário Camocim-Sobral, o que aconteceria
realmente em 1977.No entanto, os trabalhadores reagiram e escreveram uma página
de resistência de seus postos de trabalho como mostra a documentação da época,
quando foi preciso a vinda do representante do Ministro de Obras e Viação e do
Governador do Estado para acalmar os ânimos do povo. Vejamos como isso
aconteceu:
Os telegramas trocados entre a
Associação Commercial, que se achava em sessão permanente, e a direção da Rede
de Viação Cearense eram analisados pelo povo, que insistentemente ficava de
prontidão em seus arredores. Neles, algumas passagens mostram o caráter
resoluto da população na defesa da manutenção das oficinas e funcionários em
Camocim:
“A cidade, não obstante não haver-se registrado nenhum incidente, ainda
permanece sob intensa exaltação. A massa popular continua vibrante e
entusiasmada, com o propósito de obter o cancelamento da ordem de saída de
qualquer operário. Acredito que somente a vinda do ministro da Viação
conseguirá normalizar a situação....
Saudações.”
Capitão Assis Pereira Delegado Especial.
“Em resposta ao seu radiograma, informamos que estamos empregando todos
os esforços no sentido de que a tranqüilidade volte a reinar em nossa terra. O
povo, entretanto, continua intransigente, com o objetivo de conseguir um
pronunciamento definitivo do sr. Ministro da Viação sobre a permanência das
oficinas da Estrada de Ferro, (...) Toda a população, sem distinção de classe
ou de credos, percorre as rua da cidade, numa demonstração evidente de que
pretende fazer valer os seus direitos. Logo mais, daremos melhores informações
sobre os resultados que estamos
empregando.
Abraços.”
Murilo
Aguiar e Alfredo Coelho.
“Continuamos a empregar grandes esforços no sentido de conseguir que o
povo aceite a solução contida no telegrama do Dr. Hugo Rocha. Entretanto,
consideramo-nos impotentes, dada a exaltação do povo. Abraços.
Murilo Aguiar, Alfredo Coelho e José Coelho.”.
Como se percebe, povo, associações de
classe e políticos deram as mãos e fizeram esforços no sentido de manter os
postos de trabalho na ferrovia. Um simples exemplo de como as coisas podem ser
resolvidas em prol da comunidade e sem vaidades políticas. Fica o
exemplo!
FONTE: "Cidade Vermelha - a militância comunista nos espaços de
trabalho. 1927-1970" / Camocim Pote de Histórias
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