Certa
vez chegou à aldeia dos índios que habitavam a Foz do Rio Coreaú um
grande veleiro, vindo do além-mar. Homens muito brancos desembarcaram e,
aos poucos, os nativos foram, muito desconfiados, se aproximando. Os
visitantes eram criaturas diferentes, mas amistosos e, lentamente, a
amizade se instalou entre estes dois povos.
O Grande Guerreiro Branco que chegara e possuía consigo uma estranha e
perigosa arma que os nativos chamaram de pau-de-fogo ou pau do trovão,
trouxera também, muitos presentes e a festa foi muito grande! Todos
dançaram durante a noite ao redor da fogueira e a festa só acabou ao
raiar do sol.
Junto
com o Grande Guerreiro, veio sua bela filha de 18 anos que os nativos
olhavam, embevecidos, aquela princesa de cabelos doirados. Logo passaram
a chamá-la de Jacira, nome ligado à lua.
O filho do Cacique, Jovem Guerreiro, forte e muito bonito logo se
apaixonou, perdidamente, pela Princesa Dourada e as atenções da moça
também eram para ele. O namoro estava estabelecido! Mas não era um
namoro segundo as regras dos brancos. Era uma manifestação de carinho e
admiração muito baseada na contemplação. Assim, o Jovem Guerreiro
passava horas olhando para aquela princesa sem sequer se atrever a
tocá-la.
O
dia em que Jacira tocou o Guerreiro apaixonado com suas delicadas mãos e
beijou-lhe a face à moda de sua sociedade, o jovem Guerreiro sentiu o
sangue ferver em suas veias e, naquela noite, dançou em torno da
fogueira como nunca fizera antes.
Mas o tempo passou e o dia da partida dos visitantes infelizmente chegara...
Quando
o jovem índio apaixonado soube que sua amada partiria para sempre,
entrou em profunda tristeza. O cacique percebendo a dor de seu filho foi
ao Pajé, grande feiticeiro, que já percebera a paixão do jovem pela
filha do visitante. O Feiticeiro, comovido, preparou um feitiço poderoso
e para tal usou a cabeça do coró, peixe muito saboroso que podia ser
encontrado, facilmente, na foz do Rio Coreaú. Disse ao Cacique que esse
feitiço deveria ser dado ao Grande Guerreiro Branco pai de Jacira.
Alertou também que o efeito não era instantâneo e que eles partiriam
mas, com o passar de muitas luas, voltariam...
Assim
foi feito na véspera da partida. Um caldo feito da cabeça do peixe
enfeitiçado foi servido, não só para o Grande Guerreiro Branco, mas
também, para toda a tripulação do barco visitante.
No
dia seguinte, após muito choro, eles partiram com muitas lágrimas de
todos os lados. A princesa Jacira chorava debruçada na popa do barco e o
triste Jovem Guerreiro, com um forte nó na garganta, se angustiava
mesmo consolado pelo pai e pelo Pajé.
Muitas
luas se passaram e, certo dia, antes que os cajueiros florissem
novamente, um menino índio chegou na oca do Grande Cacique,
resfolegando, e dizendo: O grande barco voltou! Está lá!
Correram
todos para a beira da praia e viram, no horizonte, o navio que crescia
vagarosamente aos olhos do Cacique, de seu apaixonado filho e de toda
tribo.
O desembarque foi festivo! O Grande Guerreiro Branco trouxera consigo Jacira e disse aos Índios que não partiria mais.
Estes visitantes fundaram uma grande sociedade às margens do Rio Coreaú que levou o nome de Camocim.
Tempos
depois, o grande chefe, numa reunião de confraternização contou a todos
a Lenda do Coró, pois que aqueles que tomarem do caldo da cabeça desse
peixe, sempre voltavam ao paraíso encantado de Camocim para viver um
grande sonho!
Ainda
hoje, o feitiço está ativo e os visitantes que comem deste peixe
encantado, sempre voltam e, alguns que se excedem no consumo dele, nem
partem...
Autor do Texto: Roberto Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário